Por Leonardo Della Pasqua – Psicólogo e Psicanalista

Vivemos tempos complexos, de muita contestação e mudanças. Os avanços científicos e tecnológicos modificam o modo de viver e de se relacionar, numa velocidade inédita para a humanidade. Ninguém arrisca afirmar com precisão como nossa civilização irá organizar-se nas próximas décadas.

Neste cenário em constante transformação, o modelo de família conhecido até então passa por inúmeros desafios. A constelação familiar cresceu em complexidade. As referências do passado já não servem tanto para o presente. As projeções de futuro indicam uma metamorfose profunda em relação aos padrões e modos das pessoas conviverem entre si.

Na contemporaneidade, casais homoafetivos geram ou adotam filhos e famílias inteiras são reconstituídas, pois os recasamentos forçam os filhos de outros relacionamentos a viverem juntos. Cada vez mais crianças são criadas por apenas um dos genitores. Poucas vezes a família precisou de tanta compreensão e auxílio. Pais e mães, unidos ou separados, esforçam-se em dar o melhor de si. É comum sentirem-se angustiados, culpados e tristes no exercício da parentalidade. Quando há separação, a situação torna-se ainda mais delicada se o conflito é intenso e as alternativas encontradas são pouco construtivas.

O nascimento de um filho muda definitivamente o psiquismo dos pais. A presença real do bebê, com as novas interações daí decorrentes, abrem caminho para um universo novo, não experimentado por nenhum dos membros da família. Tornar-se pai e mãe é um processo interminável. As competências adquiridas em um período não são garantia de êxito em outro. A plasticidade e complexidade das tarefas e habilidades exigidas em cada etapa envolvem esforço, adaptação à mudanças, capacidade de diálogo e flexibilidade. Não existem certezas. Conviver com dúvidas faz parte do cotidiano. Passa a valer a lógica das tentativas, acertos e possibilidades de melhorias. Aceitar os aspectos a serem refinados no desempenho do próprio papel parental pode ser uma estratégia surpreendente. Auxilia na construção de uma comunicação eficaz, no estabelecimento de limites, na combinação das regras, na transmissão de valores, na manutenção da autoridade e na construção de uma relação efetivamente afetiva, baseada no respeito e na busca do bem-estar de todos.

Nesse sentido, é importante refletir sobre a parentalidade, enquanto um conjunto de funções e atividades realizadas pelo pais ou responsáveis, com vista ao desenvolvimento pleno e saudável da criança. Inclui as representações e significados pessoais do que é ser pai e mãe, construídas desde a gestação do bebê. A parentalidade não se encerra em situações de separação ou divórcio. Quando exercem seu papel de modo adequado, os adultos facilitam o crescimento de seus filhos nos campos físico, psicológico e social, ainda que o vínculo conjugal tenha sido rompido. Suas atribuições incluem uma série de responsabilidades no sentido de assegurar a sobrevivência e evolução da prole, em um ambiente seguro, de modo a socializá-los e auxiliá-los a serem cada vez mais autônomos.

A responsabilidade partilhada define a capacidade de suporte e coordena os compromissos de cada um dos pais. Os efeitos negativos de um conflito conjugal podem ser minimizados, se a aliança parental for positiva. Para isso acontecer, é preciso manter o foco nos interesses e necessidades dos filhos, buscando juntos um modelo de convivência de construção de consensos, esforçando-se em encontrar soluções onde todos os membros da família fiquem confortáveis com as decisões encontradas.

A aliança parental serve para mediar as características individuais de cada um dos pais. Permite o estabelecimento de acordos no modelo educacional, na divisão de tarefas, nas competências familiares conjuntas e no amparo recíproco. Nestas condições, o caminho das crianças, púberes e adolescentes está aberto para o desenvolvimento saudável, harmônico e criativo. Toda a família tem a ganhar e as necessárias reorganizações impostas pela vida são encaradas com espírito cooperativo.

Assumir a responsabilidade pela educação dos filhos é inevitável, se queremos vê-los crescer serenamente. A parentalidade não pode ser delegada. Se você chegou até aqui é porque deseja, no mínimo, sofisticar sua conduta. Não se preocupe, você precisa ser somente suficientemente bom. Seus filhos serão pacientes com você, se é que já não o são. O que as crianças e os adolescentes mais querem é a sua presença. Precisam da constância, de você como ponto de referência. Mesmo quando parecem indicar o contrário. Não se baseie em deduções ou conclusões precipitadas. Elas são armadilhas. Não confie nestas impressões. Estabeleça um diálogo propositivo, com foco daqui pra frente. Evite trazer o passado para as conversas que terá a partir de hoje. Tente. Insista. Se interesse.

 

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