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Por Michele Csordas

[/vc_column_text][vc_column_text]Nos dias em que vivemos hoje, em que tudo é para ontem, nos enchemos de tarefas e as relações mais próximas são aquelas com quem está a muitos quilômetros de distância e a pessoa ao lado é um mero conhecido, o ócio é considerado negativo.

Entretanto, se analisarmos nossa rotina e agenda diárias veremos que já não temos muitas brechinhas dedicadas a “fazer nada”. Cada lacuna em branco de nossas agendas é vorazmente preenchida por um compromisso, aula, trabalho, reunião, tarefas das mais variadas.

Até mesmo o cuidado dedicado a nós precisa estar agendado para não virar mais trabalho, reunião… Dentista na quarta-feira às 10h, terapia na quinta às 18h, manicure nas sextas às 12h20. Tudo no papel, ou na memória, ou melhor, no celular, porque ele é nosso fiel é indispensável companheiro. Tudo para gerenciar melhor nossos dias. Tudo para não perdermos compromissos ou termos tempo livre.

O ócio torna-se indicação quando nos pegamos tão atarefados a ponto de nos enchermos de atividades diversas para descansar de outras. Será necessário sermos 100% produtivos? A resposta é não. É fácil? A resposta também é não.

Permitir-nos lacunas nos nossos dias corridos é investimento em vida! Trabalhar muito, estudar sempre, correr o tempo todo te traz muitos créditos, mas pode ter seus descontos a cobrar daqui a alguns anos, meses ou até mesmo amanhã. Esse desconto vem em forma de fragilidades de saúde, relacionamentos ou outras desordens previstas, mas não desejadas. Você já investiu em créditos de vida hoje? Pense bem. Viva o ócio!

Então, a coleguinha continuou a perguntar: – Você não faz educação física? Eu respondi: – Não, não posso, sofro de artrite. Ela indagou: – O que é isso? Respondi: – É uma doença que me impede de ser normal. – Ah, sim, você não é normal? Conclui a coleguinha. – Penso que não sou, disse e continuei dando uma explicação: – Eu ouvi o médico dizendo que sofro dessa patologia? – Ah, é! E agora o que vai fazer para brincar? – Eu brinco mesmo assim. – Então, você desobedece a sua mãe e o médico? – Sim e a meu pai também. – Sim, sei. E o que acontece quando você desobedece? – Eu fico que não me aguento. – Como? – Ora, muitas dores, mas eu não deixo eles darem conta disso. Eu já estou tão acostumada que chego a não sentir a dor que de verdade sinto, mas sei que ela está ali, mas não dou conta de sentir e assim não tem como eles saberem! – Ah, entendo! Disse a coleguinha.

Num meio intervalo o diálogo continuou: – Uma vez minha mãe disse que eu nasci com a idade das coisas velhas. – Como assim? Idade das coisas velhas? – Eu não sei bem, mas fui olhar tudo o que as pessoas chamam de coisas velhas: móveis velhos, animais velhos, pessoas velhas, livros velhos, brinquedos velhos, histórias antigas, contos velhos, e por aí vai. – E aí que conclusão você chegou? – Uma das primeiras conclusões foi bem interessante. Eu vi móveis velhos numa casa nova, onde família dizia que era um Bem e que tinha muita estima por eles, por isso era tão difícil de desfazer-se deles. – Ah! Foi?! Que mais?…

– Eu vi na casa de minha tia um cachorrinho pequenininho, tão lindo, tão fofinho, brincalhão, amigo, manso. Minha tia me disse que ele já era um cãozinho velho, era cego de um olho, cheio de vontade e ela adorava fazer as vontades daquele cãozinho. – Poxa, mas e aí? Disse a coleguinha toda entusiasmada. – Calma! Eu respondi.

– Meus pais tinham o costume, toda vez no dia da criança, de doar brinquedos e roupas velhas e eu numa dessas idas os acompanhei e vi a alegria, a felicidade com que as crianças abarcavam aqueles brinquedos e roupas velhas. Também vi pessoas velhas cheias de esperança, cercadas de crianças e jovens, todos atentos querendo ouvi-los.

– Ouvi meu pai dizendo um pensamento que minha mãe dizia ser do tempo da vovó; que coisa mais velha, mas cheia de efeitos…

– Assisti o tombamento de árvores, com cem anos de idade, como patrimônio histórico. Ganhei um livro velhinho de minha madrinha, a qual dizia que livro bom nunca envelhece. Certa vez ouvi uma história que jurava ser do futuro, mas que nada, era de dois mil anos atrás.

– Poxa! A coleguinha estava perplexa. – E agora o que acontece com você?

– Sabe, foi aí que eu comecei a achar essa ideia simpática. Eu não sou velha, mas tenho a idade das coisas velhas, porque de certa maneira eu me comporto como essas coisas, mesmo tendo esse rosto de infância.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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