Por Miguel Silva – Doutor em Filosofia e Mestre em Teologia

A história de Jesus de Nazaré desenvolveu-se no período de 7-6 a.C. a 30 d.C, porém não se sabe determinar a data precisa do seu nascimento. Nasceu na cidade de Belém da Judéia, sob o governo de Herodes, o Grande; falava aramaico; sua mãe era Maria esposa de José, um carpinteiro; talvez este tenha sido também seu ofício.

Os evangelhos deixam entrever com clareza suficiente que Jesus era um menino normal que “crescia em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Frequentou o templo ainda criança (cf. Lc 2,41-50). Depois de ser batizado por João Batista iniciou sua vida pública por volta de trinta anos (cf. Lc 3,23), sob o império de Tibério, começando, primeiramente, na Galileia, na região do Lago de Tiberíades, depois na Judéia, em Jerusalém. Jesus, no seu relacionamento com a tradição religiosa de Israel frequentou o templo e teve atitude profética com relação à Lei e à Torá.

Jesus é aquele que passa fazendo o bem aos homens (cf. At 10,38), que tem compaixão deles (cf. Lc 7,13), que anuncia a misericórdia do Pai (cf. Lc 15,11-32), que está sempre atento aos pobres, doentes e pequenos (cf. Lc 14,12-13) e que sempre reza ao Pai (cf. Lc 3,21; 11,1; 22,31-32). Jesus é aquele sujeito da história humana que vai da Galileia a Jerusalém para acabar morrendo na cruz, sob o procurador romano Pôncio Pilatos: um homem que sofreu com coração humano e que suou sangue na hora da agonia, morrendo no lenho da maldição. É o homem de Nazaré e é o Filho de Deus.

Antes de qualquer coisa, contextualizar a pessoa de Jesus de Nazaré é tarefa para aqueles que buscam compreender o Cristo da fé, pois do rosto de Jesus de Nazaré resplandece a luz para se entender o rosto de Jesus Cristo, os quais podem ser admirados através da sua história, seu anúncio, suas obras e na continuidade do seu amor. Jesus Cristo é, em si mesmo, a aliança que faz da história dos homens história de Deus e da história de Deus história dos homens.

A tônica na humanidade de Jesus é comum a todo o segundo testamento, o qual é um campo fértil da fé cristã, tendo Jesus de Nazaré como seu ponto de referência e seu objeto de narração: nos evangelhos é evidente que a vida humana de Jesus é o único caminho que temos para saber de que fala ele quando diz Deus ou que significa reconhecê-lo como Filho de Deus. Jesus Cristo, na sua escandalosa identidade de único sujeito da história divina e da história humana, que nele realizam, é a aliança em pessoa, uma vez que nele se encontram, dinamicamente, duas condições das quais ele é o mesmo sujeito.

Jesus não foi apenas um perambulante na terra, que em nada foi afetado por essa vida. Ao invés, sua encarnação corresponde a um empenho pessoal do Filho, significando solidariedade de Cristo com a ascendência humana e sua representatividade em relação ao conjunto da humanidade. Nesse sentido, Cristo é o homem perfeito; nele a natureza humana foi assumida sem ter sido destruí­da; por isso mesmo também em nosso benefício ela foi elevada a uma dignidade sublime.

Já sua morte e ressurreição constituem o conteúdo central da opção de Deus pelo ser humano; e por isso, a opção por Cristo empenha ativamente a opção do ser humano pelo ser humano. Em Jesus se mantém sobre a terra a fidelidade divina até a morte, correspondendo ao mesmo tempo a Deus e ao homem. Do mesmo modo como foi solidário na terra com os vivos, assim também Jesus Cristo foi solidário com os mortos: a cuidadosa descrição da descida da cruz, da preparação do cadáver e do sepultamento é um singelo testemunho desta solidariedade.

Enfim, a história de Jesus parece, então, semelhante a tantas outras e ao mesmo tempo singular; como toda história humana, desenvolve-se num lugar e num tempo determinados, com condicionamentos iguais aos de tantos outros contemporâneos seus, com possibilidades limitadas e únicas oferecidas pela terra de Israel.  Assim, é por essa configuração que se pode afirmar que no mistério da encarnação do verbo se esclarece, verdadeiramente, o mistério da pessoa humana.

 

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